"O poeta morreu. Postumamente, se publicam os seus versos. (...) Maníaco sagrado, o poeta está próximo do xamã, do profeta e do louco, mas sem doutrina em que tenha de crer, nem divindades por que se deva deixar possuir, nem delírio a que esteja coercivamente submetido. Proclamador do patente que os outros ocultam ou evitam, ser poeta não é meio, mas princípio e fim."

sábado, 21 de novembro de 2020

Minha vida em pantomina


Minha vida em pantomina

– ironia de eu ser sóbrio

amargamente sentida

em compaixão de mim próprio.

 

Resvalando-me neurótico,

as tardes seguem sem esperança,

só tendo no anedótico

certa pequena mudança.

 

Em ânsias de afinal

nada se segue a mais nada,

não descubro nem entrada,

nem contraponto letal.

 

Tudo prossegue sem tino,

sem liberdade ou destino,

tudo fica indefinido

sem absurdo ou sentido,

tudo resta enganador,

um tudo igual sem igual

caminhando em terror

para um estertor final.


Joaquim Lúcio, O Jazigo do Poeta, Vol. I, ausência, p. 162

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