longe e perto do café
cosmopolita.
Em mim, há muito caiu...
Pesada...
Nos outros?...
Não sei...
Fumei um cigarro...
Seco, amargo...
Escrevo agora sem saber porquê...
Velório, tudo...
Os que passam de carro,
os que vão a pé,
eu aqui neste café
já nem fumando o cigarro...
Um escarro...
Meu ou do mendigo de meter dó?
Tristeza de me estar só...
De nós, se poderia dizer
que estamos num velório
esperando um enterro que não
virá...
Claro, pois que é o nosso
e assistir ao nosso enterro
é um luxo a que não temos acesso.
Uma risada desmente
aquilo que estou a afirmar,
mas rapidamente esmorece
como tomada de consciência,
certamente não verbal,
da solenidade pesada
do ambiente.
Nos velórios,
há sempre quem venha à entrada
contar piadas.
Se se exagera,
os olhares cancelam o humor.
Nem foi preciso olhar,
para a súbita alegria
se ter reconhecido inapropriada
e se ter esvaído,
rapidamente dissipada
pela atmosfera pesada.
Certamente a alegria
não é sempre fugidia,
mas agora,
no velório,
que sou e em que estou,
ela não é mais
que a anedota
a que rebeldemente
se acha piada
junto à entrada
da capela ou do café...
Dessa anedota
talvez venha um dia a rir...
Por agora,
talvez se possa
farsar um riso
triste, ecoante
no nosso silêncio
anedótico...
Enquanto os risos dormem,
o velório cansa
e cansado
até atinge a gente
que sai do teatro
de expressão pouco animada
– parece que a peça foi
uma estopada...
Descem a Avenida Fontes Pereira
de Melo
por alguma razão
e participam nesta ode fúnebre
exatamente por aquilo que são.
Eu escrevo sem saber porquê
e gostaria de pôr um epitáfio
sobre todo o cenário que se vê,
mas até para isso estou cansado
e sigo simplesmente
levando o velório
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