"O poeta morreu. Postumamente, se publicam os seus versos. (...) Maníaco sagrado, o poeta está próximo do xamã, do profeta e do louco, mas sem doutrina em que tenha de crer, nem divindades por que se deva deixar possuir, nem delírio a que esteja coercivamente submetido. Proclamador do patente que os outros ocultam ou evitam, ser poeta não é meio, mas princípio e fim."

domingo, 28 de novembro de 2021

Nota relativa à 2ª edição

     Esta segunda edição não resulta do sucesso da primeira. Dificilmente, o fracasso poderia ser maior. Embora esteja convencido que o fracasso seria inevitável, mesmo num país onde se lesse de facto alguma coisa, resolvi fornecer uma versão um pouco mais acabada, sem gralhas, espero..., e com alguma perspetiva de sair do beco em que continuaria colocada pela editora anterior. Provavelmente, será apenas uma nova ilusão e apenas terei de conhecer melhor a nova plataforma para concluir que tipo de beco é. Para começar, os preços são bastante maiores, próximos do dobro, o que é mau sinal. Já bastaria para um novo fracasso tratar-se de livros de poemas ou de textos que às vezes parecem poemas, quanto mais tornar seus preços proibitivos. Não se julgue, porém, que almeje sucesso de algum tipo. Até me agrada a discrição. Ficaria contente se alcançasse ter dois ou três leitores que comprassem os livros e uma dúzia de leitores por oferta minha ou pdf. Já fiquei bem contente com a única leitora que leu a obra de fio a pavio e que, por isso, merece o meu eterno agradecimento. De resto, pelo menos que seja do meu conhecimento, só consegui que lessem um ou outro texto isolado publicado no Facebook ou no Blogger. De qualquer forma, estou igualmente grato a muitos desses leitores de textos isolados, alguns dos quais, apesar de tudo, de grandes dimensões, dimensões que tantas vezes chegam para produzir livros completos. E encontrei leitores não só entre os meus conhecidos, mas entre antes desconhecidos quer em Portugal, quer no Brasil, quer em países africanos. Não se julgue, aliás, que sou ingrato, compreendo totalmente a não leitura geral. Dificilmente se lê mil e tal páginas de uma obra‑prima, quanto mais de uma coletânea precária e muitas vezes medíocre que, apesar da aparente maior ligeireza do verso, é frequentemente de uma densidade similar a um ensaio.

Resolvi fazer pequenas alterações, algumas das quais sob sugestão da minha leitora de fio a pavio, Ana Garrido, sobretudo neste volume, apesar de não ter seguido a vasta maioria das suas sugestões. Agradeço todas e peço desculpa pela minha teimosia em manter a maioria do texto tal qual. A minha resistência resulta, em boa parte, de eu não me sentir detentor dos direitos sobre o que produzi no passado, quando era muito diferente do que sou hoje. É importante recordar que a maior parte da obra é do século passado e que quem a fez já morreu. Claro que existe também resistência por pura e simples atual discordância. Mas o esforço dessa minha amiga, apesar das discordâncias, não foi inglório. Pensava não escrever nem mais uma linha em verso ou pseudoversos e a verdade é que, sob sua instigação, estou a fazer um esforço derradeiro para fazer algo vagamente similar a poemas. A mediocridade, a falta de proporcionalidade, a inadequação são minhas inerências, faço o que posso com as capacidades que descobri em mim e não mais que isso. Para lá do que o que mais importa no dizer é o que se diz e só o facto de sentir ter algo a dizer é que me move. Pois, se julgasse que nada mais teria a dizer, teria todo o prazer em ficar calado. Já há demasiados foles insuflados de vazio, para estar disposto a ser mais um.

 

15/11/2021

Se o teu cheiro fosse habitação

Se o teu cheiro fosse habitação lá dormiria eternamente sem desejo de sair até para a comida e morreria assim dormente sem me aperce...