Falo agora da quarta pessoa, falas agora da quarta pessoa, fala agora a quarta pessoa: o absolutamente estranho, sem relação. Tão pouco nada, tão pouco união. Nem ausência, nem superação. O estranho. Fim de explicação.
Eu – o quê eu sem tu? Poderia haver eu sem relação,
um eu cru? O eu vai-se constituindo na idealização do tu, assim se gera fora de
si a construção de si. E, porém, do eu não é o tu a sua projeção? Como pode a
projeção do eu se situar fora do eu? Mas não será o projetar anterior ao
próprio eu, sendo o eu uma projeção tardia? Quem seria? O que seria o que antes
do eu o tu projetaria?
Mas a criança toma consciência de si como um ele, a
menina, o menino, aquele de quem o tu fala e que aparentemente é ele. A criança
tem de aprender a projetar as projeções do tu para se projetar a si. Tu – ele –
eu e de novo a pergunta acerca da origem que projeta o tu. O projetar sem
identidade, o projetar nu.
Regresso ao eu e à impossibilidade de o projetar. O
ele que sou eu não é o eu que projeta o tu. Mas onde está este último eu que
nunca se objetiva, que nunca se vê? E, porém, que é tudo o resto senão o que
dele se vê? Impossível inerente à realidade da pessoa, cada pessoa se anula na
falta de sentido do sujeito, sempre diverso do que se diga dele, sempre
fundando tudo o resto, cada imagem, cada conceito, a linguagem – um prolixo sem
sentido estruturando-se nas ficções das pessoas. E do impossível inerente à
realidade da pessoa, antes e depois, na origem e no fim, a estranheza
inestruturável da 4ª talvez não pessoa, talvez única pessoa: as três
conduziram, na consciência da falha constante e instante, à impotência da
descaracterização, ao estranho.
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