"O poeta morreu. Postumamente, se publicam os seus versos. (...) Maníaco sagrado, o poeta está próximo do xamã, do profeta e do louco, mas sem doutrina em que tenha de crer, nem divindades por que se deva deixar possuir, nem delírio a que esteja coercivamente submetido. Proclamador do patente que os outros ocultam ou evitam, ser poeta não é meio, mas princípio e fim."

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Ano Novo

 

Vá Todos a bater latas à janela

Gritem todos Berrem Excitação

Subam acima de mesas e cadeiras

Badão! Badão! Badão!

É meia-noite

Alegria Alegria

Façam bradar vossas vozes

Ergam-se em euforia

Pensem já num desejo

Esqueçam-se de pudor ou pejo

Música Ponham música a altos gritos

Dancem Agora É agora Um beijo

É Ano Novo Festejemos

Bailemos Bailemos Bailemos

É rebentar de gritar e rir

Só para o ano há mais

É aproveitar até explodir

 

e depois muito contentinhos

pela permitida transgressão

voltem para dentro dos vossos ninhos

e engulam-se na vossa solidão.


Joaquim Lúcio, O Jazigo do Poeta, Madrid, Bubok, 2019, Vol. I, ausência, p. 145 

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