se bebo, bebo até cair, até esquecer
se fumo, fumo até tossir pulmões
se fodo, martelo até já não saber que raio estou
ali eu a fazer
se como, degluto numa só inúmeras refeições
se escrevo, deixa de existir mundo para lá das
linhas
se jogo, afogo-me numa realidade alternativa
se amo, em nada mais penso do que por onde tu
caminhas
se temo, a obsessão toma-me sem noção de quanto é
obsessiva
se estudo, uma obra torna-se redenção e tortura
pareço só ter por medida a desmesura
e nunca ter equilíbrio, nunca ter moderação
incapaz de exercer sobre mim a mínima contenção
destinada a pagar o preço às forças intestinas
que manobram nossos atos de formas clandestinas
não deuses a que se paga a húbris
nem outras figuras transcendentes
é aos próprios destinos imanentes
sempre hipotecados na voragem
sempre malogrados se quase no alvo
sempre desviados por viragem
que sempre dispersa e destrói
aquilo que no projeto da existência se constrói
e, assim, apesar de me ter lançado em projeto
chego ao fim reduzido a coisa, a objeto
incapaz de ter dado unidade
aos múltiplos vícios que na vida
me foram destruindo a identidade
assim como a força e a vontade
Que força é esta maior que eu
que impede sempre que eu me realize
e, ao mesmo tempo, leva sempre longe
cada coisa que deseje e idealize
para lá da moderação devida
excedendo a própria ação pretendida?
Donde vem esta desmesura?
Donde vem esta indestrutível tendência
a procurar sempre a rutura?
Donde vem a arrogância, a insolência?
Donde vem esta incontrolável
Sem comentários:
Enviar um comentário