e o pior deles é a razão,
a razão metafísica, a moral ditadura,
mas também a razão calculante de cada dimensão
– insuspeitada, porém, emergiu desta razão
uma face bem pior, o pior advento,
sua antítese total e maior realização,
a razão técnica, a razão instrumento.
Esquecida da sua origem no apetite
que desvairou até já não reconhecer nenhum limite,
retorna a ele, esquecida do seu próprio
esquecimento,
num avatar derradeiro, como sua escrava, seu
instrumento.
E aquilo que não conseguia ser como afirmação
ao infinito da sua incondicionada aspiração
universal,
consegue-o ser agora na deglutiva apropriação
com que se visa suprir consumo sempre mais global
até à exaustão completa e a destruição total.
Miríades de cálculos multiplicam-se em todas as
direções,
calculam-se as fontes e a renovação das energias,
calculam-se as formas de cada vez
mais aumentar as produções,
calculam-se
os ciclos de oferta e procura, e onde obter as mais valias,
calculam-se modos de não se esgotarem os recursos,
calculam-se receitas para obter o conformismo,
calculam-se transportes, frequência, volume e
percursos,
calculam-se estímulos para renovar sempre o
consumismo,
calculam-se notícias e mensagens para manipular os
eleitores,
calculam-se
sequências para provocar os desejados efeitos emotivos,
calculam-se
as mudanças segundo um certo número e tipo de fatores,
calculam-se formas de relativizar os insucessos
obtidos,
calculam-se
percursos de mísseis e as baixas na potência odiada,
calculam-se os trajetos de meteoros, correntes e
furacões,
calculam-se colisões de partículas até uma apenas
teorizada,
calculam-se soluções filosóficas pelas conectivas de proposições,
calculam-se as idades das estrelas e sua
longevidade estimada,
calculam-se
os mais eficazes tipos de engate, ludíbrio e sedução,
calculam-se as calorias e os nutrientes de uma
dieta ideal,
calculam-se danos e benefícios reputacionais
de cada publicação,
calculam-se os impactos políticos de cada desastre
ambiental,
calcula-se
tudo sobre todos em todos os âmbitos e em todo o lado
e todo o cálculo parece sempre totalmente racional
mesmo tendo por base um hausto apetitivo escancarado
que, já não encontrando limites ou formas de
contenção,
avança todo demência todo alucinação todo
desvairado
como uma omnipotente goela que tudo intenta devorar
até já nada mais subsistir para, na usura técnica,
calcular.
... mas pouco importa se posso calcular
que, com a operação x, y e z, ficarei com o corpo
do supermodelo que nunca cessei de invejar
e com o rosto da estrela de cinema
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