Símbolo do amor, da paixão, a rosa vermelha
oferece-se
bela, fresca, orvalhada, viçosa
Será essa
a sua essência, banalidade reproduzida
em mil
imagens icónicas do que seja a rosa?
Porquê
considerar essencial um momento efémero
como se
fora a realização sensível da rosa ideal?
Pode cair
cada pétala pelo vento ou pela mão
murchar,
enegrecer, engelhar aparência visual
devir um resíduo
ressequido que nem cor
nem
frescura, nem orgânica, nem beleza
mantém a
imagem do já olvidado esplendor
e, porém,
algo se manteve em todos os meandros dos caminhos
incólume
em toda a sua potencial crua rudeza
a sua penetrante oculta natureza, os seus espinhos
*
E, porém, não
o sabe já sempre toda a gente
apesar do
esforço eterno de nada olhar de frente?
Não tem
consciência que o florir é apenas manha
para proliferar usando
um animal que a aparência apanha?
Não tem
consciência que o que mais persiste é o esqueleto
mesmo após
a cabeça sinistra rolar do cepo
sendo, das
carnes, a humidade, a fofura, a macieza
uma ilusão
para cumprir a ordem de ação da natureza?
Descarnada
se evidencia a essência
que se
desdobra ao longo da existência
sendo o
fluir de cada aparência
apenas
oportunidade de a transcender
até o
fundo de onde emerge o seu ser
a fonte
eterna de todo o acontecer
*
Leda
ilusão da dádiva eterna do amor
desaparecida
assim que se realizou seu fito
entregue à
idealização todo o ardor
que apenas
deixa, despojo nu, o animal aflito
E,
ridiculamente, há quem busque recuperar
esse ápice
vivido no efémero instante
julgando
possível como coisa o agarrar
quando só
para si existiu, foi relevante
Entre as
páginas, há quem a guarde ressequida
ou num
altar erguido no dédalo da memória
mas a rosa
conservada nem se assemelha à vivida
Ao invés,
enquanto cor, frescura, brilho são só história
os
espinhos até reforçam penetrante a agudeza
da dor que
sempre acompanhou toda a beleza
© Joaquim Lúcio, 25/4/2021
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